sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ficha de Leitura E-folio B

O estudo referenciado, aborda temáticas relacionadas com o comportamento dos adolescentes em diversos campos de acção como o interpessoal - a família, a escola, o social, os hábitos de lazer - e no campo intrapessoal, na procura e construção da sua identidade pessoal.
O ponto crucial deste estudo surge como um desafio para as famílias e para os promotores de saúde, tendo em vista uma participação mais activa dos jovens, no que diz respeito a novos desafios e estímulos nesta fase da sua vida, onde diversos factores como a insegurança, o tédio, a depressão e o stress, são uma constante.
O que se sabe?
Todo o processo da adolescência sofre rápidas alterações a nível físico, cognitivo, psicológico e sociocultural, e implica uma alteração de relações de entre si e os diversos contextos sociais em que se movimenta e torna possível uma grande diversidade interpessoal, da qual se destacam no âmbito da saúde, os factores ligados ao risco e à protecção.
Na base de vários problemas de comportamento social e de saúde, destacam-se as dificuldades de relacionamento interpessoal, nomeadamente a agressividade, o isolamento e ainda a alteração de comportamentos comprometedores da saúde: consumos de substâncias, sedentarismo, excessos ou privação alimentar, comportamentos sexuais de risco.
Os pais influenciam de forma indirecta, o relacionamento dos filhos com os amigos, tendo alguns autores considerado que os pares são um complemento com a família, nomeadamente no que diz respeito à promoção da saúde e bem-estar nos adolescentes.
No que diz respeito a determinado tipo de comportamento de risco adoptados por adolescentes, como o consumo de álcool, verificou-se que são os pais que estão mais associados a este comportamento, enquanto os pares influenciam todos os outros comportamentos de risco para a saúde, como a actividade sexual de risco ou o consumo de substâncias (álcool, tabaco e drogas). Às vezes os pares substituem uma relação familiar insatisfatória e noutras complementam-na. Um bom relacionamento com a família, com o grupo de pares e com a escola, pode ser um elemento de protecção para comportamentos de risco para a saúde dos adolescentes.
O grupo de pares, é muito importante na adolescência, pois contribui e promove o desenvolvimento pessoal no âmbito da definição de um projecto de vida, de uma identidade pessoal e social adulta, dos limites pessoais e regulação de competências sociais.
O que se pretende entender?
O grupo de pares é muitas vezes identificado a partir das actividades que partilham (musica, leitura, desportos praticados) ou através da sua aparência pessoal. Para os jovens a musica e a televisão ainda são das actividades em que os adolescentes mais gostam de ocupar os seus tempos livres. Para alguns autores (North, Hargreaves& Hargreaves, 2000; Cristenson & Roberts, 1998) a música continua a ocupar um lugar de destaque na vida dos adolescentes. Os adolescentes identificam-se com as letras das canções e com o estilo de vida dos artistas. Assim, a música pode tornar-se parte da sua identidade e definição de gostos e imagens de grupos. A música surge ligada às mais variadas problemáticas, conforme o estilo que as caracteriza, por exemplo os “metálicos” e os “rapers”, surgem associados a relações familiares não satisfatórias e afastamento em relação à família. Relativamente aos estilos musicais, estudos efectuados em Portugal, revelam que à medida que a faixa etária vai avançando, os gostos musicais já se encontram mais definidos e revelam menos rebeldia.
Com o aparecimento das novas tecnologias na última década, a música ficou para os jovens com outro significado pois, as novas tecnologias permitem aos jovens aceder em qualquer lugar às suas músicas e grupos favoritos. As novas tecnologias permitem uma maior diversificação de escolhas, assim como tomar conhecimento dos acontecimentos musicais.
As relações sociais entre os jovens, têm vindo a alterar-se nos últimos anos devido à expansão das novas tecnologias da informação. Os jovens vivem afastados emocionalmente e socialmente do mundo dos adultos, pais e professores, pois preferem ficar em casa a utilizar os computadores independentemente do fim a que se destina (profissional, académica ou por puro entretenimento), e não saem tanto à noite, o que um lado reduz o comportamento de risco ligado aos consumos e à violência.
Este mundo virtual está cada vez mais presente nas nossas vidas, e cada vez estamos mais dependentes dele. Deverá ser encarado como uma nova ferramenta de trabalho, ou de lazer e socialização ou como uma nova dependência? A realidade virtual permite aos utilizadores criar um mundo paralelo onde se pode viver uma existência diferente. Esta é uma realidade alternativa partilhada por milhões de pessoas em todo o mundo, a “realidade virtual” passou a ser encarada como uma realidade evidente embora num formato diferente. Assumir uma personagem (avatar) diferente no jogo, pode provocar uma sensação de liberdade criatividade e relaxamento. No entanto, e devido ao anonimato que o jogo permite podem ocorrer situações de abuso ou tentativa de molestar menores. Atribuir aos jogos uma relação de dependência por parte dos jovens de modo a limitar a sua vida pessoal, social, escolar e familiar, não será correcto, pois provavelmente os jovens que se tornam dependentes dos jogos de computador, já teriam perturbações / alterações psicológicas mais ou menos graves o que permitiu um contacto excessivo com os jogos. Mas se por um lado há quem considere que os jogos contribuem para um desenvolvimento cognitivo e psico-social, outros sugerem que possa levar a um desprendimento da realidade, a um isolamento do mundo pessoal e social e a uma apatia no que diz respeito à intimidade física ou ainda criar condições para a ocorrência de outros riscos.
Falemos agora de “ciber-bullying”…o “ciber-bullying” trata-se de uma perseguição constante e propositada por parte de alguém mais forte sobre outro. Este fenómeno ocasiona muitas vezes problemas de saúde física e mental, e nalguns casos mais graves, a pressão exercida, remete para o suicídio. O “ciber-bullying” aparece como um sinal dos tempos, apelando para uma reflexão serena mas urgente (Olweus, 1993). Cada vez mais os jovens (e os menos jovens) passam mais horas a “conversar” no computador, facto que implica mudanças nas relações interpessoais e práticas de lazer, o que não seria negativo de todo, pois poderia permitir o desenvolvimento de laços sociais em pessoas isoladas.
Quando a ligação à internet assume uma dependência de forma a limitar a vida familiar, pessoal, social, escolar, profissional das pessoas ou, quando no novo mundo social “virtual”, alguém menos atento e desprevenido em relação aos novos perigos, este fenómeno começa a ser deveras preocupante.
Estas novas formas de comunicar, permitem aos adolescentes (e não só) um contacto social em que quem está do outro lado do anonimato, assume uma posição de amigo ou terapeuta, sempre presente e disponível, enfim, o amigo ideal que permite a cada um ser aquilo que quiser. Os adolescentes mais fragilizados podem dedicar-se demais a este amigos, e ficarem perturbados se eles desapareceram, ou com medo se eles se tornarem ameaçadores, muito sozinhos porque nem sabem com quem falar e sem saberem pôr o problema no mundo dos adultos, tão fora destes cenários.
Nos moldes da actual sociedade em que nos inserimos, em que as novas tecnologias fazem parte da vivencia diária dos adolescentes, há que rentabilizar recursos com vista à integração social. O lazer poderá desta forma, servir de base ao “desenvolvimento da capacidade de procurar apoio social (…) de focar na solução dos seus problemas, no aumento do seu esforço e investimento pessoais”.
Efectivamente, e cada vez mais, o dialogo, é uma ferramenta insubstituível que conduzirá à integração psico-social dos jovens. Não bastará impor posturas, alertar para o que devem, ou não, fazer, sem que se explique o porquê de tais condutas. A família continuará a ter uma intervenção fulcral na inclusão dos jovens, contribuindo para que estes mantenham estilos de vida saudável. E, muitas vezes, nomeadamente em meios cujos progenitores não dominam as novas tecnologias e/ou não se encontram devidamente alertados, aumenta o fosso entre os jovens e a família. É este o desafio eminente: os pais e demais adultos responsáveis pela educação dos jovens terão de mostrar-se disponíveis, aptos a trabalharem conjuntamente na “construção” de futuros cidadãos integrados social e informacionalmente nesta aldeia global em que vivemos.




Tavares, José; Pereira, Anabela Sousa, Gomes Ana Allen, Monteiro Sara Marques, Alexandra Gomes Alexandra - Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem; (2007);
Tavares et al. (2007). Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem
http://www.voki.com/php/viewmessage/?chsm=7890a8519c6b695a0fa1f405754e6fad&mId=455897